quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Trecho de agosto - Enganando a IA



Esta semana tive a oportunidade de assistir Ghost in the shell, (em português, A vigilante do amanhã), com a Scarlett Johannson, desta vez, morena.
Ela foi citada várias vezes no meu livro "Quando homens e monstros se tornam deuses", um romance de ficção que fala de cinema e clonagem humana.
Existem algumas semelhanças entre este filme e o meu livro.
No filme a protagonista é um cérebro humano colocado num corpo ciborgue, com memórias suprimidas.
No livro, chips com Inteligência Artificial são usados para animar corpos humanos feitos de plástico, depois de alimentados com memórias das pessoas.
Nos dois casos, permanece a questão: como fica a alma humana e os sentimentos das pessoas, quando se usam corpos artificiais? Uma realidade cada vez mais próxima.
Segunda pergunta: robôs e chips podem ser enganados, mesmo quando baseados em Inteligência Artificial? Se considerarmos que IA, em sua origem, é apenas um programa de computador, alimentada por dados, a resposta é SIM: basta usarmos um código de programação mal-intencionado ou alimentá-la com dados falsos. Tanto o livro como o filme mostram isso.
Para ilustrar melhor, o trecho de agosto mostra como a IA foi enganada no meu livro.
Podemos comentar a questão, para quem estiver interessado. Aceito opiniões.

PS. Estou trabalhando no relançamento deste livro, com mais acessibilidade para a cópia impressa. O e-book continua na Amazon.

"Bob continua usando intensivamente o neurochip equipado com Inteligência Artificial e manifesta preocupação:
— Doutor, por que simplesmente não requisitamos nossa carga e a levamos embora?
— Bob, já expliquei que temos pouco capital. Para termos uma carga liberada rapidamente, nós teríamos que ter contratado uma escolta e pago todos os impostos de importação. Do jeito que estamos fazendo, fica muito mais barato.
— Isso não é ilegal, Doutor?
— Paguei a carga à vista. Só falta pegar o que nos pertence e ir embora. Não precisamos preencher uma tonelada de papéis se a carga nos pertence.
— Não vamos preencher papel nenhum, Doutor. Foram abolidos há duzentos anos.
— É só uma expressão humana, Bob. Quero dizer que podemos evitar a burocracia e, se dermos sorte, ainda recebemos o valor do seguro de volta.
— Mas nossa carga está muito bem protegida. Tem até seguranças armados.
— Bob, é aí que preciso de sua ajuda. Você estudou todas as plantas e todas as rotinas de funcionamento deste espaçoporto. Quero que crie um esquema para tirarmos nossa carga daqui, sem chamar a atenção.
— Não é possível, Doutor. Podemos tirar a carga, mas seria preciso remover alguns guardas do caminho. E os paletes flutuadores com certeza chamarão a atenção de outros seguranças.
— Isso é bom, Bob. Então você tem um plano. Execute.
— Não posso. Meus programas são para dar prazer às pessoas. Não posso promover nenhum desconforto.
A reação de Bob deixou Smith desconcertado. Isso de androides domésticos se recusarem a cumprir ordens é um efeito colateral, não planejado, dos programas de personalidade. É uma antiga preocupação daqueles que trabalham em aperfeiçoamento cibernético: até que ponto as máquinas podem ser ensinadas a pensar?
Mas deparar-se com isso numa hora tão crucial é o cúmulo. Entrar numa área protegida de um terminal de cargas, com mais seis androides, todos os sete vestidos de carregadores braçais, para encontrar a resistência de um mero programa, é demais. 
A situação exige medidas drásticas. Um confronto entre a mente humana e um simples programa de computador:
— Bob, tem uma coisa sobre humanos que nunca te contei. Seu programa de AI precisava chegar a um nível adequado para entender. Agora é a hora.
— O que é, Doutor? Algo que não consigo deduzir com minha lógica?
— É uma coisa humana, Bob. Sobre prazer. Você não vai encontrar isso em nenhum banco de dados. Muitos humanos gostam de passar por momentos de desconforto, só para sentir o prazer da recuperação. Não tem nenhum problema em colocar alguns seguranças para dormir, mesmo que haja alguma violência. Eles se sentirão muito felizes ao acordar e ver que estão inteiros.
— Minha lógica mostra algum antagonismo nisso.
— É uma questão de balanceamento. Ser posto para dormir contra a vontade apresenta um mínimo de prazer. Porém, acordar por conta própria e constatar que se está vivo e saudável é extremamente prazeroso. Não te parece lógico?
— Me parece estranho. Mas muita coisa que envolve humanos é estranha. Isso é lógico para mim.
— Qual era seu plano?
— Precisamos criar uma distração que leve os seguranças para o outro lado. Depois pegamos a carga e saímos daqui.
— E onde está a dificuldade em executar?
— Só temos uma nave. Se a usamos para afastá-los, não temos como sair.
— Então vamos pegar outra. Me parece lógico.
— Quem ficaria feliz com isso?
— Eu, você e todos os nossos futuros compradores.
— Tenho que achar outro jeito. Esperem aqui, vou localizar as nossas caixas.
Sem esperar resposta, Bob separou-se da equipe, caminhando rapidamente em direção à parede direita do depósito, seguindo as orientações das plantas que havia estudado. Dois homens armados faziam a segurança ao lado da porta da sala de controle dos paletes. Ao ver Bob se aproximando, os dois posicionaram as mãos sobre as pistolas phaser e um deles perguntou: 
— O que faz aqui, androide?
— Vim lhes proporcionar prazer.
— O quê? Algum dos rapazes te mandou de presente para nós? Chegou muito cedo, ainda estamos de serviço.
— Melhor assim. Terão mais tempo para se sentir felizes quando acordarem.
Os seguranças não entenderam a referência, até que Bob chegou tão perto que parecia querer entrar no meio dos dois. O robô levantou os dois braços, fingindo que faria uma caricia nos rostos dos homens, apenas para puxá-los pelos colarinhos dos uniformes e atirar uma cabeça contra a outra, com força. Ambos caíram nocauteados."

Trecho de "Quando homens e monstros se tornam deuses".  http://bit.ly/Recruta5HomenseDeuses


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