terça-feira, 10 de junho de 2014

Volume 3 - Os guerreiros de Alana - Amostra Gratis (Susan Eagles)

Capítulo 3 - Polícia Montada


Susan detesta banheiros de avião. Mas não pode negar que se sentia muito mais confortável quando saiu do cubículo, com a pistola especial alojada de volta na cartucheira presa na coxa.
Quando não estava armada ou enquanto a pistola estivesse descarregada ela se sentia completamente nua, não importa que roupa estivesse usando. Nunca gostou de chamar a atenção, mesmo sendo uma morena clara de 1,70, cabelos longos e negros, lábios carnudos geralmente com pouco batom, apenas o suficiente para combinar com a maquiagem leve. Neste momento vestia uma saia folgada preta, que ia até os joelhos, uma blusa de algodão azul clara, um casaco leve e botas curtas. Se algum peludo se atrevesse a estar no mesmo avião, seria fácil sacar a pistola e acertar duas pequenas balas de prata de calibre .22, bem entre os olhos da besta.
Tiros certeiros são sua especialidade. Com vinte e oito anos de idade, fazia cinco que mantinha o título de Campeã de Tiro da RCMP, a Royal Canadian Mounted Police, não apenas atirando com pistolas, mas também com rifles de longa distancia. Isto já era suficiente para lhe dar o direito de viajar armada, mas suas pistolas e rifles precisam seguir no compartimento de cargas do avião, embora ela preferisse tê-los sempre á mão. Estava sempre viajando para novas competições, representando a organização considerada como a melhor polícia do mundo.
Desafiava todos os protocolos, trazendo a pequena Glock especial dentro do avião, uma pistola de polímeros plásticos invisível aos Raios X, única no mundo e feita sob encomenda. Mas tinha que entrar com sua preciosidade descarregada, porque a munição não era indetectável. Para contornar o problema, embarcava com duas balas de prata escondidas nos brincos, disfarçadas de pingentes. Depois que o avião decolava, sempre precisava ir ao banheiro, para carregar a pistola e devolvê-la para a cartucheira de silicone presa na coxa.
Seguia esta rotina apenas porque estava numa missão não oficial. Missões oficiais permitiam que ela viajasse com o uniforme de Tenente da Policia Montada, levando armas na cintura. Mas desta vez não era o caso.
Lembrava-se da conversa que teve pela manhã. A intendente apareceu na sala logo depois que ela chegou da caserna, voltando do café da manhã:
- Susan, o Superintendente Eagles está te chamando, na sala dele.
- Disse do que se trata, Marjorie?
- Não, mas me pareceu bastante agitado.
- Lá vem bomba. Obrigada.
As duas trabalhavam juntas há tantos anos que muitas vezes esqueciam o protocolo, se tratando pelo primeiro nome. Susan não podia deixar o Superintendente esperando. Imediatamente atendeu à convocação.
- Mandou me chamar, papai?
Quando não havia mais ninguém na sala, pai e filha podiam se tratar sem formalidades, quase esquecendo que ambos eram oficiais.
- Sente-se Susan. Tenho uma missão para você. Seu avião parte esta noite.
- Oba, faz tempo que não passeio um pouco. Voo noturno? Para onde a RCMP vai me mandar agora?
- Não é uma missão da RCMP. Você vai como Hunter.
Susan ficou séria na hora. Além de Polícia Montada, ela e o pai também são integrantes da Lycan Hunters, uma divisão secreta da RCMP especializada em combate a lobisomens.
- O que está acontecendo, papai?
- Lembra quando te contei do lugar chamado Mar de Arvores?
- Sim, uma floresta no Japão que provavelmente esconde uma matilha muito antiga. Muitos corpos são encontrados lá todos os anos.
- Exato. Temos um agente infiltrado na equipe que vasculha a floresta e ele nos contactou há três dias. Disse que ouviu uma estória sobre corpos semi devorados aparecendo no centro de Tóquio.
- Então acha que os peludos estão migrando para uma floresta de concreto?
- Tem mais: são corpos secos. O sangue foi retirado antes de serem devorados.
- Como assim? Nunca ouvi falar que os peludos adotassem uma dieta deste tipo.
- Conversei com Shokiro, o comandante dos Hunters no Japão. Ele confirmou os boatos. Ele sugeriu que pode haver alguma ligação entre os peludos de lá e vampiros.
- Impossível, são inimigos mortais.
- Se estão agindo na mesma área vamos ter problemas. Ou pode ser apenas coincidência, pois lupinos nunca se sujeitariam a ficar com sobras. Shokiro conhece uma agente dos Caçadores de Vampiros, uma russa que atua por lá. Já trabalharam juntos em alguma coisa no passado. Ele pediu ajuda para a agencia dela. Responderam prontamente.
- Então devo ir ao Japão esclarecer essa coisa toda.
- Não, você vai para o Brasil. A tal agencia disse que enviaria agentes locais para colaborar na investigação em Tóquio, e pediram uma reunião entre nosso melhor especialista em lupinos e a melhor especialista em vampiros que eles tem. O encontro será em São Paulo.
- Do nosso lado sou eu?
- Eu mandaria o Michael, mas ele ainda está ocupado com os peludos da Colômbia. Não queria te envolver com vampiros.
- Posso me virar, papai. E na volta ainda posso passar na Amazônia e socorrer meu irmãozinho.
- Michael te mata se você aparecer por lá... Mas como te conheço, vou preveni-lo da possibilidade...
Depois da conversa ela teve bastante tempo para arrumar suas malas, incluindo um conjunto de pistolas e rifles acompanhados de muita munição de prata pura, extraídas das minas canadenses de propriedade da família. Do quartel seguiu direto para o Aeroporto Toronto Pearson, para embarcar quase ás 23 horas. A previsão era voar mais de dez horas, num voo da Air Canada direto para São Paulo.
Aproveitou o tempo no aeroporto antes do embarque para pesquisar sobre a tal especialista.
Seu pai disse que o nome da mulher é Alana Ghosten. Deveria ser alguma escritora ou jornalista, cheia de publicações sobre o assunto, mas ficou frustrada quando não encontrou nenhuma referência, sobre assunto nenhum.
Ficou imaginando se aquele seria um codinome para alguma agente secreta. Podia indicar que a agencia dos Caça-Vampiros é organizada. Imaginou a mulher como uma velhinha de óculos, toda enrugada, uma devoradora de livros, tipo aquelas secretárias de bibliotecas que se veem nos filmes.
O avião pousou no Aeroporto Internacional de Guarulhos quase ao meio dia, com duas horas de atraso, sob um sol abrasador, muito mais quente do que ela estava acostumada. Por sorte trouxe óculos escuros. Demorou mais de meia hora para recuperar sua bagagem e se dirigir para a área de desembarque.
Imaginou que a agencia enviaria alguém para recebê-la, mas ficou surpresa quando viu a menina segurando um cartaz improvisado onde se lia "Miss Eagles". Era uma jovem japonesinha muito bonita aparentando uns vinte e poucos anos. Deve ser a secretária da velhinha que provavelmente tem alguma dificuldade para se locomover.
Seguiu na direção da menina e ao chegar a um metro dela, se apresentou:
- Susan Eagles.
Ficou pasma quando a garota respondeu, em perfeito inglês, lhe oferecendo um sorriso encantador:
- Welcome to São Paulo, Miss Eagles. I am Alana Ghosten, your hostess. Can I call you just Susan?