terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Como assassinar uma língua


 
Muitos já devem ter ouvido falar de línguas mortas. É o nome dado para linguagens que não são mais faladas por pessoas nativas, embora possam ser estudadas e até usadas por pessoas cultas. Latim, por exemplo, é a mais conhecida.
Não é o caso da nossa riquíssima Língua Portuguesa, embora exista uma minoria se esforçando para assassiná-la, todos os dias. Tenho visto algumas palavras inexistentes ganharem espaço e algumas realmente incomodam.
Uma que frequentemente me dói aos olhos, sempre que a vejo (não dói nos ouvidos por ser quase impronunciável) é a palavra "escritorxs". Suponho que a minoria que a criou quisesse defender outras pessoas indecisas, portadoras de déficit de atenção e crise de identidade. As que não sabem o que são e se dizem ofendidas com a palavra "escritores", uma palavra coletiva consagrada. que também pode ser usada como plural. Atribuem conotação sexual masculina para a palavra escritores, a diferenciando da palavra escritoras, vista com conotação sexual feminina e criaram uma aberração assexuada, na palavra escritorxs, tentando justificar o uso de um caractere de gênero.
Essa palavra inventada incomoda por ser ofensiva. Na prática indica que existem escritores machos, escritoras fêmeas e "coisas" que escrevem. A palavra repudiada "escritores" tem um conceito muito mais amplo: abrange todos os profissionais, sejam homens ou mulheres, jovens ou velhos, brancos ou negros, brasileiros ou estrangeiros, os que escrevem, sem distinção de gênero ou de preferência sexual. Convocar escritores é fazer uma chamada aos profissionais da escrita, enquanto que usar uma palavra inventada é o mesmo que convocar coisas indefinidas.
— Ô coiso, estou falando com você!
Os defensores destes caracteres de gênero (existem outros além do "x"), alegam que estão sendo empáticos, como se chamar alguém de "seu nada" fosse empatia. E atacam quem não adota isso, esquecendo que empatia e respeito são conquistados, nunca impostos. É preciso oferecê-los, antes de cobrar de volta.
Não sou contra nenhuma minoria, desde que não queiram me obrigar a vê-las como maiorias. Uso os termos no sentido numérico, não no pejorativo. Manetas são uma minoria, mas seria no mínimo estranho se eles criassem regras para que todos usassem só uma das mãos.
Minorias estão em quase todos os livros que escrevi. Não apenas as de cunho sexual, mas também as étnicas, religiosas, culturais, sociais, etc., sem necessidade de inventar palavras ofensivas.
Se vocês já leram algum livro meu, devem ter visto como todos os personagens, independente da minoria onde estejam inseridos, são tratados com respeito. 
E podem ter certeza de que jamais chamarei vocês de "leitorxs".
Não é uma promessa vaga.