sexta-feira, 15 de abril de 2016

A família do recruta aumentou

A série "Um recruta no espaço" tem novos títulos.

O volume 4, "O espírito do Natal", já está disponível na Amazon. 

Para quem está chegando agora, em 2220 um jovem sul africano branco e órfão se formou na Academia das Forças Espaciais da Terra, na base de Joanesburgo, onde estudava com outros jovens de várias partes da galaxia. Graças aos próprios méritos, conseguiu uma vaga para servir como recruta na Picard IX, a nave de guerra mais poderosa da Terra naquela época. Ele escreveu estas cronicas para contar as aventuras que viveu, ou sobreviveu, aos amigos da Academia.  

Nesta quarta aventura, o recruta está na Terra para passar o natal de 2228 entre amigos. Se expondo a uma Corte Marcial e a aparições sobrenaturais. Apresentando Eva, uma nave Fusca 2210, capaz de atingir a velocidade da luz e de ficar invisível. A pequena nave-ovo volta na aventura seguinte.



O volume 5, "Quando homens e monstros se tornam deuses", está em fase final de preparação e muda de formato. Será um livro com mais de 200 páginas. O tema é a clonagem humana em 2230, envolvendo cópias de atrizes famosas. Todos os envolvidos lembram algum ator/atriz ou algum personagem famoso nos Séculos XX ou XXI. A trama evolui página por página, até chegar no final surpreendente. Uma história digna do cinema.

Os três primeiros volumes já estiveram grátis na Amazon. Se você perdeu, ainda pode adquiri-los e formar sua coleção. Não tenho programação de quando voltarão a ficar gratuitos. Se já os leu, por favor, deixe uma avaliação lá na www.amazon.com.br. É o jeito que tenho para saber onde preciso melhorar.

Boa leitura.

A mulher mais quente do universo: http://www.amazon.com.br/dp/B01706MZCW
Quando homens e monstros se tornam deuses: em breve.


terça-feira, 12 de abril de 2016

O casal de sabiás




O casal de Sabiás


São Paulo é cheia de contrastes.  A enorme Metrópole poluída e congestionada, que nunca para, também nos reserva surpresas. A de hoje foi um casalzinho de Sabiás Laranjeira, ciscando no canteiro central da Radial Leste, uma das avenidas mais problemáticas da cidade, completamente indiferentes aos carros e ao trânsito pesado.
Me chamou a atenção a atitude do casal. Como sei que formavam um casal, ao invés de dois machos ou duas fêmeas? Simples, eles estavam sem nenhum telefone celular, sem Internet e nem WhatsApp. São duas avezinhas rodando o firmware original, instalado pelos anjos durante a criação. Dois seres não incluídos digitalmente, portanto não contaminados pelas neuras dos humanos.
Nem mesmo se importam quando os chamo de duas avezinhas.
O canteiro teve a grama podada recentemente, o que permitiu que eu os visse, e está cheio de pedaços de folhas soltas e resíduos deixados pela cortadeira. O senhor Sabiá me pareceu estar procurando pelas melhores folhas soltas, evidentemente planejando levá-las para confeccionar um ninho. A senhora Sabiá apenas observava, sugerindo ser uma noiva atenta, escolhendo os azulejos que vão decorar o novo apartamento do casal. Havia muitas opções no enorme Shopping de construção civil em que o canteiro se transformou.
Na minha deturpada cabeça humana fiquei imaginando se agiriam da mesma forma se fossem dois machos. Provavelmente estariam brigando, competindo para ver quem consegue a grama ou o galho maior. Depois qual dos dois seria o construtor do ninho. Depois partiriam para analisar outros ninhos, procurando por um ovo disponível para adoção. Duas fêmeas agiriam de forma parecida. Discutindo formas e cores da grama, qual combina melhor com as penas das duas ou onde encontrar o galho mais alto para o ninho, sem nunca chegar a um acordo.
Já disse, tenho Internet e WhatsApp, eu sei das coisas. Embora não tenha nada a ver com a opinião de ninguém, muito menos de Sabiás. Por sorte, nossa e delas, as avezinhas não sabem que podem escolher outros jeitos de levar a vida. Continuam agindo da mesma forma que faziam desde o Éden. Ou desde a Arca de Noé, para quem não consegue enxergar tão longe.
Só passar ao lado do casalzinho, ambos com os peitos alaranjados estufados, orgulhosos com a própria liberdade que lhes permite planejar o futuro, me fez um bem enorme. Ainda existe esperança neste nosso mundo poluído e barulhento.

Talvez para nós, os humanos, seja interessante trocar um pouco de inclusão digital pelos conceitos esquecidos, deixados lá na Arca do Noé.

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Deu galho

Me aventurando em um novo gênero: Crônica do Cotidiano.


Deu galho


O dia prometia. Uma segunda feira ensolarada, sem chuva, com previsão de trinta graus para depois do almoço. Deixei minha casa ás sete da manha, com o espirito preparado para passar os próximos oitenta minutos dentro do carro. Uma hora e vinte para percorrer dezoito quilômetros é uma média aceitável para o trânsito paulistano, em qualquer segunda-feira.
Os primeiros dois terços do trajeto foram normais, no anda-e-para tradicional. No terço final, o para se sobrepôs ao anda. Decidi que não vale a pena me estressar. Continuei dirigindo com o ar condicionado ligado, ouvindo as ultimas noticias do fim de semana, quase cem por cento relacionadas a política. Não que eu goste, mas é que preciso me municiar de informações para poder conversar com outras pessoas, já que este é o assunto do momento.
Segui o ritmo que me foi imposto. Cheguei na minha mesa de trabalho ás oito e quarenta, meia hora depois do que havia planejado e com apenas dez minutos de atraso, fácil de compensar antes de voltar para casa à noite.
Quando olhei pela janela, entendi o motivo do trânsito confuso. Na grande Avenida visível quando levanto a persiana, havia uma arvore atravessada, na pista contrária àquela por onde eu cheguei.  Se fosse do mesmo lado, provavelmente eu não teria chegado ainda.
Nas horas seguintes pude observar o andamento da operação para salvar a cidade. Sim, São Paulo inteira corre perigo quando uma coisa assim acontece, por ser uma Metrópole, por ser segunda de manha, e pela importância da Avenida que liga dois lados da cidade, o norte e o sul, e ajuda a desafogar os outros dois lados, o leste e o oeste.
Conversando com os colegas soube que a queda do galho ocorreu por volta das oito horas, sem motivo aparente. Quando comecei a observar, os bombeiros já cercavam o galho com três caminhões de bombeiros e uma viatura de resgate. Viaturas da polícia de transito tentavam organizar o caos reinante. Soube mais tarde que o resgate foi para socorrer um motoqueiro agredido pelo galho, no momento da queda dos dois. Só ferimentos leves, nada de grave, pelo menos para o motoqueiro. O galho foi diagnosticado como morto, apesar de estar cheio de folhas verdes.
Outros veículos oficiais continuaram chegando, com sirenes ligadas, a única forma de passar pelo engarrafamento caótico. Mais bombeiros, mais policiais de transito e mais funcionários da prefeitura, vestidos de laranja, o uniforme da limpeza pública.
Na hora seguinte assisti uma operação sincronizada entre três órgãos do serviço público, atendendo a uma emergência municipal. Bombeiros usando suas motosserras para picotar os galhos, os profissionais da limpeza arrastando os pedaços para a calçada, enquanto os policiais militares impediam o tráfego de veículos protegendo a todos. Depois de arrastar todos os galhos, os trabalhadores usando roupas laranja pegaram vassouras e começaram a varrer as folhas, completando a função de cada grupo.
De longe, pude ver um grupo de policiais com uniformes escuros aguardando enquanto os vestidos de laranja trabalhavam. Me lembrei das notícias ouvidas no rádio, todas com foco em política. Na mente de algumas pessoas, poderia parecer que feitores estavam subjugando escravos. Os militantes mais fanáticos com certeza veriam chicotes nas mãos da elite uniformizada opressora, explorando a classe pobre, obrigada a varrer ruas.
Em outros pontos da cidade, é provável que estejam sendo organizadas manifestações de protestos contra o trânsito, com quebradeira de ônibus, queima de pneus e bloqueio de avenidas e ruas importantes. Afinal, militantes se auto atribuem o direito de bloquear ruas, mas árvores não podem fazer isto.
A única coisa útil que estes supostos manifestantes poderiam dizer, é que todo o problema desta manha de segunda poderia ter sido evitado, com uma simples poda de arvores, preventiva. É possível encontrar galhos suicidas antes que eles morram. Mas nenhum militante falará disso, enquanto o prefeito for do partido deles.
O trabalho continuou por mais duas horas. Aproveitando a situação, os bombeiros decidiram por adiantar o suicídio de outros galhos em potencial. Fizeram a poda de mais algumas árvores.
O suficiente para encher quatro caminhões da prefeitura.
Distraído com o trabalho, não vi quando os caminhões partiram. Com certeza foi um cortejo fúnebre, com quatro caminhões entupidos com os restos mortais de vários galhos e muitas folhas verdes.
O saldo final de tudo isto não é muito agradável. Militantes comemoram o prejuízo imposto aos patrões, que por sua vez amargam a perda dos negócios que abririam a semana. Empregados amargam as horas e talvez o domingo descontado, por causa dos atrasos. Alguns perderam consultas médicas, entrevistas de emprego ou o próprio emprego. A cidade toda perde com fatos assim, embora a maioria nem perceba.
Só quem lucra é a imprensa sensacionalista: "Mais uma vez a cidade parou, por causa de uma queda de árvore, numa manha sem chuva e sem raios."
Tudo por culpa de uma árvore que desistiu de fornecer sombra e se suicidou, ao se atirar contra um motoqueiro, bem no meio de uma movimentada Avenida.