quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Volume 1 - O Sorriso de Alana - Amostra gratis

Agora que os contos estão quase na praça, só faltando a Editora distribuir, posso deixar que os vampiros saiam do congelamento forçado em que estiveram.
Retornando ao projeto da vampira "O Sorriso de Alana", segue os 3 primeiros capítulos do livro, como uma amostra do que vem por aí.
Comentem.

Introdução

A jovem estava trabalhando a pouco tempo naquela Floricultura. Ou seja, desde que fora aberta no início do ano. Era de propriedade da sua mãe, mas já a ajudava desde antes da loja ter sido montada.
Gostava de trabalhar ali, apesar de consumir todo o seu tempo. Isto era bom, pois não queria ficar ociosa. Não agora, faltando tão pouco.
Tinha muito tempo que era metódica, sempre planejando todos os seus passos com muito cuidado. Aquela falha, quase dez anos atrás, não tinha sido sua culpa mas era considerada como sua maior derrota.
Quando traçava um objetivo, queria alcançá-lo de qualquer jeito. E seu objetivo agora era bater seu próprio recorde: exatamente nove anos e seis meses. Existia uma data marcada para que isto acontecesse, 20 de dezembro. Tinha plena consciência de que teria que fazer um esforço enorme nestes últimos meses, quase já não estava resistindo mais. Mas esta não seria como da última vez.
E agora aquele homem, Claudius, surgira na sua vida.
Parecia um homem comum, sem nada de especial. Meia idade, baixo, óculos, começando a aparecer a barriga, cabelos grisalhos rareando. Mas nada disso importava. O importante era o que via: um homem solitário, caidinho por ela, manipulável. Seria fácil demais.
Embora aparentasse vinte e poucos anos, na verdade era bem mais velha do que isso, muito mesmo e tinha uma larga experiência com homens. Nas últimas semanas, só de olhar para os olhos dele podia identificar o desejo, o conflito interior, a solidão. Era só dar um pouco de corda e ele se jogaria ao seus pés, como um escravo. Poderia até ser divertido, talvez ele servisse.
Mas não faria nada por enquanto. Não por causa dele, mas por ela mesma, pois não queria correr o risco de perder o controle. Só faltavam alguns meses, era só resistir um pouco mais...
Não seria derrotada de novo.

Parte 1 - Ela

1 - Comilança


Era uma quente tarde de junho. O calor estava terrível naquela agitada rua do bairro do Tatuapé, em São Paulo, apesar de oficialmente ser inverno.
Claudius mais uma vez tinha vindo almoçar no Comilança, um restaurante self-service situado a duas esquinas de onde trabalhava. Era um cinquentão que gostava de boa comida, embora estivesse tentando interromper o acúmulo de peso, principalmente na região abdominal. Perder peso parecia um sonho impossível de realizar, portanto tentava apenas evitar que aumentasse.
Naquele restaurante podia optar por comidas mais saudáveis, mais verduras e legumes. Mas falhava no auto controle, sempre pegava também os outros pratos mais calóricos, e nem sempre em pequena quantidade.
Nesta tarde, já eram quase duas horas, ele estava acompanhado dos amigos que normalmente o acompanhavam para o almoço: Serguei e Reginaldo, dois dos seus frequentes companheiros do trabalho. Serguei era o mais novo integrante da equipe, magro, também chegando aos cinquenta, ou tendo passado pouco disto, sempre divertido e conversador. Não parecia japonês, mas tinha descendência. Reginaldo era mais jovem, ainda na casa dos quarenta, bonachão e gozador. Era um ex-gordo que tinha conseguido emagrecer. Formavam um grupo bem heterogêneo.
O Comilança tinha dois pavimentos. O térreo estava apinhado de gente e repleto de cheiros e fumaça. Cheiro de vários tipos de comida, fumaça da churrasqueira que ficava num dos cantos. Para quem já estava acostumado, aqueles odores até que estimulavam os paladares.
Ao lado da churrasqueira havia uma escada que descia para o pavimento inferior. Era mais aconchegante, tinha menos iluminação, menos cheiros e quase nenhuma fumaça.
Era neste pavimento que os amigos almoçavam nesta tarde. Tinham conseguido uma mesa vazia no meio do salão, para quatro pessoas, onde puderam sentar os três juntos. Havia poucas mesas no local, e quando estava cheio, era normal algumas pessoas se sentarem em mesas que já estavam ocupadas, desde que houvesse cadeiras vagas. Algumas vezes até se iniciavam conversas entre estranhos.
Terminado o almoço, como era de praxe, fizeram um último pedido. Serguei chamou uma garçonete que passava por perto naquele momento e pediu:
- Por favor, três expressos puros.
Mesmo com o calor, nenhum deles dispensava um café depois da refeição.
Não demorou quase nada para que fossem atendidos. Tomaram seus cafés enquanto conversavam frivolidades, como em todos os dias.
Quando se levantavam para sair, Claudius se virou para perguntar alguma coisa a Reginaldo. Neste momento notou que a mesa mais ao fundo, junto da parede, também estava ocupada. Se não tivesse se virado, nunca teria percebido que havia mais uma pessoa lá no fundão. Por um momento imaginou que aquele lugar seria perfeito para alguém que quisesse passar despercebido, que não quisesse ser visto.
Curioso, tentou observar quem era a pessoa. Foi então que a viu pela primeira vez.

2 - A garota

Era uma moça. Mesmo estando á vários metros dela e em apenas poucos segundos, pode observar vários detalhes.
Aparentava ter entre 22 a 25 anos, pele morena clara, oriental, provavelmente japonesa, cabelos negros compridos, até abaixo dos ombros, magra, esbelta, com um rostinho de menina. Usava uma blusa branca folgada sobre calças jeans. Não viu o tipo de calça que ela usava, pois estava escondida pela mesa, mas deduziu que era jeans. Só podia ser. Era uma garota com jeito de saber combinar a roupa. Definitivamente linda.
Desde que a viu não conseguiu mais desviar o olhar. Parecia haver algum magnetismo entre ela e seus olhos.
Não ouviu a resposta de Reginaldo, para seja lá o que for que tivesse perguntado. Nem se lembrava mais da pergunta. Seus dois amigos já estavam de saída. Reginaldo passou por ele seguindo Serguei em direção da escada, para subirem ao térreo e sair para a rua.
Se sentia paralisado, não queria ou não podia sair do lugar em que estava. Como que atraída por seu olhar insistente, a moça levantou o lindo rosto para observar o movimento do lugar e seus olhares se encontraram, por um muito breve segundo. Lhe pareceu ver um brilho diferente naqueles olhos, mas não soube identificar o que era. Como se ela estivesse procurando ou esperando por alguém. Também o olhar dela era muito bonito e magnético.
Claudius já nem sentia mais o sabor do café.
Com um esforço enorme, se virou e foi em direção da escada. Seus companheiros já tinham subido e deviam estar na fila do caixa, para pagar suas contas. Cada um pagava a sua.
Enquanto subia ainda se virou várias vezes para observar o fundo do salão. A moça continuava almoçando tranquilamente, como se nada tivesse acontecido. Mas afinal, o quê é que tinha acontecido?
Continuou andando devagar, em direção do caixa para pagar a sua conta. Seus amigos não entendiam o porque daquela moleza. Reginaldo ainda questionou:
- Qual é, Claudius, se mexe. Seu café estava batizado? Temos que trabalhar, cara!
Não sabia o que responder. Queria ficar ali, esperar a moça terminar seu almoço, subir a escada, queria ver o jeito dela andar, como era de corpo inteiro, queria ouvir sua voz, segui-la...
Tudo o que conseguiu dizer foi:
- Vocês viram aquela garota na mesa do fundo?
Reginaldo respondeu:
- Que garota? Alguma famosa? Acho que você está ficando lelé, Claudius. Cuidado, deve ser sinal de aposentadoria iminente...
E saíram, Reginaldo rindo debochadamente.
Saiu dali sabendo apenas que precisava voltar, e não era só para almoçar e tomar café.

3 - O sorriso e um decote

Claudius voltou ao Comilança todos os dias da semana seguinte. Foi difícil convencer seus companheiros a voltar sempre ao mesmo lugar, mas insistiu tanto que eles acabaram cedendo. Eles gostavam de variar onde almoçavam ou tomavam seu café e geralmente não repetiam o mesmo local do dia anterior.
Não viu a garota em nenhum dia.
Exatamente uma semana depois, numa quarta-feira, seus amigos disseram que queriam almoçar uma feijoada, o prato do dia. Mas a melhor que eles conheciam era em outro restaurante, não no Comilança. Disfarçadamente disse que não estava bem para uma comida tão pesada naquela vez. Podiam ir sem ele.
Foi sozinho em sua busca pelo desconhecido que martelava sua cabeça. Na última semana parecia que seu coração tinha acelerado mais do que o normal. Nem sabia se o remédio para pressão, o que tinha que tomar diariamente, estava funcionando. Estava precisando, urgentemente, era marcar uma consulta com um cardiologista. Ou melhor, com um médico de coração, até uma cartomante serviria.
Neste dia deu certo. Quando desceu as escadas, ela estava lá, almoçando calmamente na mesma mesa. Vestia uma blusa regata verde, folgada, que deixava expostos seu pescoço e ombros. Cabelos presos atrás da cabeça. Mais linda ainda do que lembrava da outra vez.
A maioria das mesas estavam ocupadas neste dia. Como estava sozinho, podia escolher qualquer cadeira vazia em qualquer mesa, seria uma coisa normal. Na mesa ocupada pela garota, de quatro lugares, três estavam vazios. Sem pensar, foi direto para o fundo do salão, sentindo o coração acelerado.
- Com licença, se importa se eu me sentar aqui?
- Fique à vontade.
Que voz maravilhosa! Feminina, suave, determinada, baixa, perfeita. Combinava com a beleza dela. Como três palavrinhas podiam transmitir tanta perfeição?
- Estou sozinho hoje. Meus amigos foram almoçar em outro lugar.
- Geralmente só venho aqui quando estou sozinha também.
Maravilha, ela não se importava de conversar com um estranho.
- Você deve ter muitas amigas. Elas não gostam da comida daqui?
- São poucas. E gostam de variar o cardápio, sabe? Um dia comida japonesa, outro dia massas, no outro churrasco, coisas assim. Cada dia em um lugar.
- Meus poucos amigos também são assim. Hoje foram comer feijoada...
- Mas você gosta desta comida. Já te vi almoçando aqui no outro dia...
"Nossa!". Ela não o havia chamado de "senhor" e tinha percebido sua existência. A garota merecia um Prêmio Nobel...
Involuntariamente começou a ficar agitado, excitado por não ter sido chamado de "senhor". Tentou disfarçar.
- Também te vi no outro dia. Você trabalha aqui por perto?
- Sim, numa floricultura na rua de baixo. É um lugar bom de se trabalhar, gosto das plantas...
Ela sorriu ao falar da floricultura, nada demais. Ou foi das plantas. Pareceu que uma centena de holofotes foram ligados ao mesmo tempo. O sorriso da menina tinha a capacidade de iluminar um campo de futebol, de tão lindo que era.
Aquela luminosidade toda aumentou sua agitação, virou tremedeira. Tentou pegar seu copo com refrigerante para tentar se acalmar, mas tudo o que conseguiu foi derrubá-lo desastradamente, na direção da jovem.
Ela se assustou, deu um pulo para trás para não ser atingida pelo refrigerante, com uma agilidade espantosa. Quase derrubou a cadeira.
Nesse movimento sua blusa decotada se moveu e pareceu que seria mostrado mais do que ela pretendia expor, sem querer. Claudius sentiu um calafrio na espinha e desviou o olhar para o chão: não estava preparado para isto neste momento. Não se tratava do vexame, mas do decote da menina. Quando voltou a levantar o olhar, ela já estava sentada como se nada tivesse acontecido. Ele ainda tentava se recompor, envergonhado pelo desastre.
Conseguiu recuperar voz suficiente para dizer um tímido "Desculpe." enquanto espalhava guardanapos pela mesa molhada. Sentia que seu coração queria sair pela boca. Devia estar vermelho como um tomate maduro. Tinha estragado tudo!
Ela educadamente disse que não foi nada. Terminou seu almoço, pediu licença e saiu em direção da escada. Caminhava graciosa como uma princesa. Se é que ele tinha noção de como as princesas graciosas caminhavam.
Claudius queria, mas não pôde acompanhá-la. Suas pernas não respondiam. Queria chamá-la de volta, mas nada do seu corpo obedecia. Estava completamente paralisado, pela vergonha do desastre.
Em sua cabeça, seu cérebro estava fervendo. Já tinha idade mais do que suficiente para se considerar um homem maduro e não entendia como um sorriso e um decote podiam ter feito tanta destruição.
Apesar de ser aquele sorriso maravilhoso e... “Não devia ter virado o rosto, imbecil!”.

Um comentário:

  1. Parabéns pelo livro mais uma vez! Adorei e estou super mega curiosa para saber o final do livro.

    Sussesso !

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